O homem é um ser crédulo por natureza. Por força de
berço e de instinto, o homem crê. Fácil perceber isso observando uma criança.
Ela acredita, sempre! Diga a ela que em todos os natais vem um velhinho barbudo
e de roupa vermelha, viajando em uma carroça voadora que chamam de “trenó”,
puxada por renas que, estranhamente, também têm a capacidade de voar... Diga a
ela que esse velhinho entra na casa de todo mundo, até daqueles que não têm
chaminé, e deixa um lindo presente para as crianças que foram obedientes...qual
é a reação da criança? Ela crê nessa história, por mais absurda e ilógica que
possa parecer!
Diga a esta mesma criança que, meses depois do
velhinho do Natal, vem um coelho (que não bota ovo nenhum) e deixa ovos de
chocolate nas janelas, nas caixas de correio e atrás das portas das crianças...
mesmo diante de uma tonelada de indicações de que a história não é verdadeira,
a criança crê. E crê por várias razões: Crê (1) porque confia cegamente na
pessoa que lhe traz a notícia, crê (2) porque o resultado da história lhe traz
muita satisfação, (3) crê porque ainda não aprendeu que pessoas mentem e mentem
descaradamente, despudoradamente!
A mentira é algo que o ser humano aprende pela
observação, pela universalidade (todos mentem!) e pela prática. A vida dessa criança vai evoluir e, cedo ou tarde, ela
vai saber que Papai Noel não existe, que coelhinho da páscoa é uma lenda
capitalista, vai aprender que mesmo as pessoas em quem ela mais confia mentem
para ela e vai, inevitavelmente, também aprender a mentir. E quando aprender a
mentir, terá lamentavelmente perdido a fé e a capacidade de crer.
Pronto! Temos aí, devidamente formado, mais um
incrédulo a se somar à multidão de pessoas que caminharão vivendo o desconforto
existencial da falta de fé. Nós que fomos feitos à imagem e semelhança de Deus,
nós que trazemos por natureza a infinita capacidade da fé, ao mesmo tempo em
que adquirimos conhecimento da vida, perdemos a fé. À semelhança de Adão, nosso
pai ancestral, quando a vida nos apresenta o fruto da árvore do conhecimento do
bem E do mal, começamos a perder nossa identidade com o Sagrado. Deixamos de
ser “crianças” e alçamos ao status de homens e mulheres “cheios” de
“conhecimento”, de “sabedoria”. E tão incrédulos quanto incrédulos eram os
contemporâneos de Jesus, passaremos a conviver com o problema da incredulidade:
temos a fé em nosso DNA, mas aprendemos a não crer.
E como aqueles, passamos a viver a interminável busca de
algo no qual possamos crer. Algo que nos explique os inexplicáveis da vida
através da fé desaparecida, perdida, extinta em nós pela “verdade”. Continuamos,
como crianças perdidas no meio das mentiras e verdades presentes na História,
buscando uma na qual possamos crer. Por mais que venha vestida em mantos
vermelhos, arrastadas por estranhas carruagens voadoras, nós adultos também voltamos
a crer.
Veja, por exemplo, as milhares de tradições religiosas
do nosso século: Há templos dedicados aos macacos, às vacas, a fantasiosos
ídolos de pedra! Há sistemas religiosos complexos baseados na existência de uma
erva que produz um louco “barato”! Há pessoas crendo em explicações das mais
malucas, baseadas em argumentos ainda mais loucos! Mas, crêem. Crêem porque
afinal, precisam instintivamente crer em alguma coisa!
Aí, um belo dia, a Verdade (assim mesmo...com V
maiúsculo!) aparece e os homens não crêem! Deus, o Verdadeiro Deus se revela,
apresenta provas incontestes de Sua Verdade e, mesmo assim, os homens não
crêem! Entre a Verdade do Filho do Homem e as mentiras da religiosidade maluca
dos homens, eles preferem suas fantasias! Que loucura, meu Deus!
Vejam o povo hebreu fugindo do exército egípcio: Deus
faz o Mar Vermelho se abrir! Imagine você a cena! Um mar se abrindo, você
passando a pé pelo meio das águas e o exército que te persegue sendo engolido
atrás de você! Como não crer em um Deus que te faz isso? Como não crer em um
Deus que te aquece com uma inegável coluna de fogo todas as noites no Deserto
do Sinai? Como não acreditar no maná, comida que literalmente cai do céu todas
as manhãs? Ainda assim, ainda que o Verdadeiro Deus tenha se mostrado de forma
tão real, a maioria daqueles que lá estavam preferiram não crer e morreram no
deserto.
Veja os dias de Jesus: Os evangelhos mostram a fama de
Jesus se espalhando pelo Oriente e pelo Ocidente por causa dos espantosos
milagres que Ele fazia! Pessoas sendo curadas aos milhares, e curadas das mais
diversas modalidades de males incuráveis! Pão sendo multiplicado diante dos
olhos de todos! “Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem?!!” O próprio
diabo, diante do testemunho ocular das pessoas, muitas vezes reconheceu a
divindade de Cristo e, mesmo assim, os homens seguiam não crendo!
Uma incredulidade teimosa, uma falta de fé que não
cede, não “arreda pé” mesmo das mais assombrosas evidências de Verdade! Não lhe
parece irritante isso? Nós, crentes do século XXI, que não vimos nem uma nesga
de tantos milagres relatados na Bíblia, desejamos e buscamos todos os dias um
“milagrinho” simples, pequeno, uma amostra miúda e dificilmente conseguimos!
Não nos irrita olharmos para a “fartura” de milagres dos tempos bíblicos em
contraponto com a incredulidade daqueles homens? Não nos dá uma vontade de
entrar em uma máquina do tempo e baixar lá na Jerusalém do século I e sair
dando sopapos naqueles incrédulos? Cooooomo vocês não crêem neste Jesus? Não
está na caaaaara que Ele está falando a verdade? Cooooooomo vocês ainda
preferem acreditar no fariseu que mente tanto???
Calma! Não se irrite com a falta de fé. O próprio
Jesus lidou e se viu obrigado a conviver com isso. Veja Jo.12:37-50. Olhando
para este texto, e tão somente para o texto, e crendo que esse registro é uma
partícula da palavra da Verdade que o próprio Deus endereçou a nós, observe:
1) A capacidade de crer é dom de Deus. A fé inata ao ser humano
nasce em Deus e sem uma ação direta de Deus sempre será mais fácil acreditar
nas mentiras humanas do que nas Verdades reveladas por Deus através da obre de
Cristo. (v.40)
2)
Assim como a criança crê no chocolate do ovo porque este lhe
parece doce e agradável, nós também preferimos crer mais nas mentiras que nos
dão algum conforto do que nas verdades que nos exigem mudanças mais profundas.
(v.42)
3) A fé em Jesus obriga todo crente a abandonar as antigas
práticas mundanas e dedicar-se a uma vida renovada, iluminada pela Verdade do
Evangelho (v.46).
4) Ao optar pelas mentiras do falso conhecimento humano, ainda
que diante das inegáveis demonstrações da Verdade de Jesus, todo homem atrai
para si a condenação ao eterno distanciamento de Deus, a definitiva separação
entre Criador e criatura (V.48).